Na data de 07 de novembro de 1885, a Gazeta Paranaense publicou um curioso
relatório policial e posterior lavratura de Termo de Bem Viver, ou seja: “O Exmo Sr. Dr. Chefe de Polícia
conseguiu apreender há dias uma mão de cera que Maria Gomes dos Passos,
moradora no quarteirão do Butiatuva, possuía, há mais de 30 anos servindo-se
dela para, abusando da credulidade e superstição dos rústicos, obter, não só
ela como três filhos, meios se sobrevivência.
Maria
Gomes, narrando como veio a possuir essa mão, diz que um santo homem, S. Feliz
(um dos muitos especuladores que tem havido e ainda há no centro desta
província) lhe dera em uma visita que lhe fizera, recomendando que a guardasse,
pois que era santa, nunca se separasse dela; que recebesse esmolas e
dividisse-as, sendo metade para ela e a outra metade para a mão, junto a qual
devia conservar sempre em um barril de água para lavá-la, servindo a lavagem
para distribuir-se com os crentes e fiéis que desejassem curar a si ou a outros
de todas as moléstias; que a mão santa era milagrosa tanto que ninguém tinha
recorrido a ela sem que obtivesse o que desejava.
Acrescentou
mais Maria Gomes que tudo isso é verdade e que quando o santo homem lhe deu a
mão era ela de comprimento de 0,05 m, tendo crescido até hoje 0,06 m e que sua
continuamente.
Essa
especulação da ignorância dos rústicos alimentava, como já dissemos, aos três
filhos de Maria Gomes, os quais percorriam quarteirões dos distrito deste termo
e de outros recebendo esmolas de todo o valor, principalmente dinheiro e joias.
Dois desses filhos de Maria Gomes são ébrios habituais e tuberculosos, pelo que
um deles já assinou termo de bem viver, perante a Chefe de Polícia e outro vai
ser submetido ao processo que procede esses termos.
Eis
a descrição da mão santa: mede 0,11 m de comprimentos até o punho e 0,07 m daí até
a parte do antebraço que existe, sendo portanto todo comprimento de 0,18 m. Em
sua maior largura tem 0,06 m, sendo a grossura de 0,03 m. O indicador tem 0,04 m
e o polegar 0,06 m, tudo de comprimento. Apenas nota-se imperfeitamente sinais
de unhas. Os demais dedos são também informes e desproporcionais, parecendo
todos serem feitos de faca. Um deles é torto e já foi quebrado como
visivelmente mostra a emenda que foi feita com cera virgem. As articulações das
falanges são representadas por talhos dados à esmo.
Toda
a mão está em estado tal imundície que enoja tocá-la.
Ela
está colocada dentro de uma caixinha com porta de vidro e em cima de uma
espécie de pedestal com a palma à mostra.
Tanto
fora como de dentro da caixa pendem fitas multicores, sujas, ramos de flores
artificiais, contas de vidro de aljofre, das quais se acham duas voltas no
punho.
Consta
que o Chefe de Polícia tem tido muitos pedidos para entregar a mão a Maria
Gomes, pois, além dos rústicos, muita gente de gravata lavada se tem apegado à mão
santa; mas também consta que o Chefe de Polícia tem resistido aos empenhos e
que vai enviá-la para o museu, onde ficara como amostra do valor da ignorância
popular o qual chega até o ponto de venerar figura tão repugnante”.
TEXTO EXTRAÍDO DA OBRA CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS E GEOGRÁFICAS SOBRE O MUNICÍPIO DE ALMIRANTE TAMANDARÉ-PR que pode ser visualizado nos links: