sábado, 5 de outubro de 2013

Histórias que viraram estórias!

"Lá pela década de 50, a cidade não possuía uma grande população e progresso tecnológico na comunicação que desfruta atualmente. Tanto é que a energia elétrica era uma coisa rara. A tal ponto de ser produzida particularmente, como fazia meu avô Pedro, já que dispunha de um açude que proporcionava uma capacidade hidroelétrica pequena, mas que conseguia abastecer a sua casa. O mesmo fazia meu tio avô José Kotoviski.
Diante deste fato, o divertimento, geralmente eram as pessoas se reunirem nas mercearias, nas casas de conhecidos, em novenas, missas e festas de igrejas. Geralmente, os casados aproveitavam este tempo para conversar sobre os fatos do cotidiano que pertenciam. No Botiatuba, não era diferente, já que a mercearia mais visitada (a única na região) para estes encontros diários era justamente a de meu avô Pedro Jorge Kotoviski. O qual ainda para alegrar mais a freguesia e as visitas de fim de tarde, dispunha de um aparelho de rádio, que mal pegava alguns programas. Mas já era um atrativo para prender a atenção de muitos, naquela época. Pois, parece engraçado, mas as pessoas se reuniam para escutar rádio, e o mesmo ocorria com a televisão, quando ela apareceu. 
Num belo fim de tarde, como era de costume, um tradicional cliente, apareceu na mercearia (seu Vicente Krizizanoski), para comprar alguns mantimentos e bater um tradicional papo, enquanto degustava uma boa pinga. Conversa vem, vai,..., muitos assuntos ligados a vários fatos,..., até que o distinto senhor comentou que a Villa de Tamandaré iria afundar.
Espantados e ao mesmo tempo curiosos, o pessoal quis saber por quê? Então, o senhor explicou que na época em que se estava construindo o Seminário dos Padres (Seminário Capuchinho Franciscano Santo Antônio), um padre italiano engenheiro e geólogo, foi destacado para supervisionar a obra. Em consequência disso, o padre ao perceber que o solo da região da obra não era muito firme para sustentar o projeto original elaborado inicialmente o modificou. Principalmente devido a alguns testes de superfície e características da região, constatados por suas simples andanças. Eis, que facilmente observou muito lagos natural (dolinas, que se encontra atualmente na propriedade do Sr. Moacir Didoné, margeando a Rua Pedro Jorge Kotovski no Botiatuba), nascentes e rochas calcárias. Constatou então, a partir de seus conhecimentos que possuía de geologia, que a região estava disposta sobre um aquífero cárstico.
Diante disto, responsavelmente, alterou o projeto original, o que gerou certo descontentamento entre os superiores de hierarquia da Igreja, que estavam responsáveis pelo local naquele momento. Já que teriam que novamente fazer a fundação da obra. Consequentemente, o padre foi questionado do motivo. E de forma direta ele respondeu que tal providência se dava, porque poderia ocorrer que o prédio do seminário afundasse ou ficasse comprometido demais, a ponto de cair.
Os seus superiores, por falta de conhecimento técnico, não acreditaram muito na história, e continuaram questionando o padre, enquanto alguns pedreiros presenciavam e escutavam as constantes e diárias discussões que ocorriam entre os padres, toda vez que havia necessidade de se mudar ou fazer algo diferente na obra.
Fundamentado em seus conhecimentos de engenharia e principalmente de geologia, explicou: “que o grande responsável por esta limitação de edificações mais imponentes na região, era o subsolo, que apesar de ser abençoado por possuir uma abundante reserva de água, era também um perigo para o futuro não só da região, mas de algumas partes mais sensíveis a ele na cidade”.
O pessoal, meio assustado, começou a indagar o padre além de expressar que ele estava louco, já que o sacerdote não mais se referia ao destino da construção, mais de outras construções espalhadas pelo município. O padre, percebendo tal agressividade ocasionada pelo temor, acalmou a todos, expressando que tal risco, não se desencadearia tão breve, demoraria décadas e estava extremamente relacionado ao desenvolvimento de Curitiba e da própria Villa Tamandaré.
Aparentemente mais tranquilizados, porém, não satisfeitos, assim estavam o pessoal que observava e escutava atentamente aquelas palavras. Já os padres continuavam discutindo e questionando o engenheiro e solicitaram uma explicação mais elucidante do que ele havia comentado. Então o sacerdote, dentro de uma analogia em um contexto de uma previsão, explicitou que: analisem comigo, Curitiba é a capital do Estado do Paraná, onde a Sede governamental estadual se encontra a pouco mais de 17 km de onde estamos. Ou seja, a cidade de Tamandaré é grudada a capital. Diante deste fato, dentro de uma previsão plausível, Curitiba tende a crescer economicamente e populacionalmente. Em consequência desse fato, por efeito, Tamandaré, também crescerá, mesmo não sendo no ritmo da capital, mas crescerá. Então, mais gente, mais casa, comida e água. Espaço para moradia não falta em Curitiba e região. Comida, dificilmente irá faltar.
No entanto água potável, provavelmente terá que sair de outras fontes, que não sejam rios. Principalmente, porque as pessoas mais ignorantes não percebem que quando poluem os rios, diminuem a qualidade da água. A qual terá que ser tratada (na época, década de 30, isto era algo absurdo). E para tratar é muito caro e limitado. Diante deste fato, de onde sairá à água de boa qualidade? Do subsolo. E onde tem um subsolo rico em água? Na Villa de Tamandaré...
O problema então recai nesta extração, que provavelmente irá diminuir o volume de água, que é o alicerce liquido das gigantescas cavernas calcárias ocultas aos nossos olhos, que estão sob onde pisamos. Para agravar a situação, a Villa de Tamandaré, também, irá crescer populacionalmente. E isto indica mais construções sobre o solo, que querendo ou não aumentarão o peso sobre estas ocultas cavernas. Neste contexto, enquanto a reposição de água for igual ou superior ao volume de água que sai tudo isto que foi citado não terá efeito. O problema é quando o volume de água que sai, for muito maior que o que entra nas cavernas do subsolo, o qual é possível perceber, quando os poços de água das casas ou as dolinas (lagos naturais) diminuem seu volume ou secam. E quando isto acontecer, a probabilidade da cidade ou algum ponto dela afundar é muito grande, já que possivelmente o aquífero, compromete o território tamandareense pelo que observei, (atualmente se sabe que o aquífero se estende por quase 80% do subsolo da cidade).
Espantados mas ao mesmo tempo aliviados, o pessoal que observou e escutou tudo aquilo, entre ele o ilustre narrador Vicente Krizizanoski (que foi um dos pedreiros da obra do Seminário) do fato escutado pelo meu pai Antonio Ilson Kotoviski. Com o tempo foi contando esta história para outros. E como já é de conhecimento das pessoas, o repasse da história nunca era feita da mesma forma e às vezes, era distorcida involuntariamente e mal interpretada (devido ao contexto da cena presenciada), até que ela ganhou o formato como ficou conhecida entre a população mais tradicional do município. Ou seja, que o padre capuchinho, por divergência no que tange ao afrontamento o qual sofreu no desempenhar de seus serviços, saiu da Villa Tamandaré, amaldiçoando-a com o destino que a cidade iria afundar.

Este fato da maldição se refere ao episódio em que os padres discutiram a ponto de o sacerdote italiano se desligar da obra de vez. O qual de cabeça quente expressou: que não adiantava fazer uma obra em uma terra onde mais tarde iria afundar e se tornar um grande lago como também, nunca poderia ser uma cidade de fato (com prédios). E como, esta discussão foi escutada e presenciada pelos pedreiros, estes acharam que o padre engenheiro estava amaldiçoando a localidade"... 

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