"Lá pela década
de 50, a cidade não possuía uma grande população e progresso tecnológico na
comunicação que desfruta atualmente. Tanto é que a energia elétrica era uma
coisa rara. A tal ponto de ser produzida particularmente, como fazia meu avô
Pedro, já que dispunha de um açude que proporcionava uma capacidade
hidroelétrica pequena, mas que conseguia abastecer a sua casa. O mesmo fazia
meu tio avô José Kotoviski.
Diante deste
fato, o divertimento, geralmente eram as pessoas se reunirem nas mercearias,
nas casas de conhecidos, em novenas, missas e festas de igrejas. Geralmente, os
casados aproveitavam este tempo para conversar sobre os fatos do cotidiano que
pertenciam. No Botiatuba, não era diferente, já que a mercearia mais visitada
(a única na região) para estes encontros diários era justamente a de meu avô
Pedro Jorge Kotoviski. O qual ainda para alegrar mais a freguesia e as visitas
de fim de tarde, dispunha de um aparelho de rádio, que mal pegava alguns
programas. Mas já era um atrativo para prender a atenção de muitos, naquela
época. Pois, parece engraçado, mas as pessoas se reuniam para escutar rádio, e
o mesmo ocorria com a televisão, quando ela apareceu.
Num belo fim de
tarde, como era de costume, um tradicional cliente, apareceu na mercearia (seu
Vicente Krizizanoski), para comprar alguns mantimentos e bater um tradicional
papo, enquanto degustava uma boa pinga. Conversa vem, vai,..., muitos assuntos
ligados a vários fatos,..., até que o distinto senhor comentou que a Villa de
Tamandaré iria afundar.
Espantados e ao
mesmo tempo curiosos, o pessoal quis saber por quê? Então, o senhor explicou
que na época em que se estava construindo o Seminário dos Padres (Seminário
Capuchinho Franciscano Santo Antônio), um padre italiano engenheiro e geólogo,
foi destacado para supervisionar a obra. Em consequência disso, o padre ao
perceber que o solo da região da obra não era muito firme para sustentar o projeto
original elaborado inicialmente o modificou. Principalmente devido a alguns
testes de superfície e características da região, constatados por suas simples
andanças. Eis, que facilmente observou muito lagos natural (dolinas, que se
encontra atualmente na propriedade do Sr. Moacir Didoné, margeando a Rua Pedro
Jorge Kotovski no Botiatuba), nascentes e rochas calcárias. Constatou então, a
partir de seus conhecimentos que possuía de geologia, que a região estava
disposta sobre um aquífero cárstico.
Diante disto,
responsavelmente, alterou o projeto original, o que gerou certo
descontentamento entre os superiores de hierarquia da Igreja, que estavam
responsáveis pelo local naquele momento. Já que teriam que novamente fazer a
fundação da obra. Consequentemente, o padre foi questionado do motivo. E de
forma direta ele respondeu que tal providência se dava, porque poderia ocorrer
que o prédio do seminário afundasse ou ficasse comprometido demais, a ponto de
cair.
Os seus
superiores, por falta de conhecimento técnico, não acreditaram muito na
história, e continuaram questionando o padre, enquanto alguns pedreiros
presenciavam e escutavam as constantes e diárias discussões que ocorriam entre
os padres, toda vez que havia necessidade de se mudar ou fazer algo diferente
na obra.
Fundamentado em
seus conhecimentos de engenharia e principalmente de geologia, explicou: “que o
grande responsável por esta limitação de edificações mais imponentes na região,
era o subsolo, que apesar de ser abençoado por possuir uma abundante reserva de
água, era também um perigo para o futuro não só da região, mas de algumas
partes mais sensíveis a ele na cidade”.
O pessoal, meio
assustado, começou a indagar o padre além de expressar que ele estava louco, já
que o sacerdote não mais se referia ao destino da construção, mais de outras
construções espalhadas pelo município. O padre, percebendo tal agressividade
ocasionada pelo temor, acalmou a todos, expressando que tal risco, não se
desencadearia tão breve, demoraria décadas e estava extremamente relacionado ao
desenvolvimento de Curitiba e da própria Villa Tamandaré.
Aparentemente
mais tranquilizados, porém, não satisfeitos, assim estavam o pessoal que
observava e escutava atentamente aquelas palavras. Já os padres continuavam
discutindo e questionando o engenheiro e solicitaram uma explicação mais
elucidante do que ele havia comentado. Então o sacerdote, dentro de uma
analogia em um contexto de uma previsão, explicitou que: analisem comigo,
Curitiba é a capital do Estado do Paraná, onde a Sede governamental estadual se
encontra a pouco mais de 17 km de onde estamos. Ou seja, a cidade de Tamandaré
é grudada a capital. Diante deste fato, dentro de uma previsão plausível,
Curitiba tende a crescer economicamente e populacionalmente. Em consequência
desse fato, por efeito, Tamandaré, também crescerá, mesmo não sendo no ritmo da
capital, mas crescerá. Então, mais gente, mais casa, comida e água. Espaço para
moradia não falta em Curitiba e região. Comida, dificilmente irá faltar.
No entanto água
potável, provavelmente terá que sair de outras fontes, que não sejam rios.
Principalmente, porque as pessoas mais ignorantes não percebem que quando
poluem os rios, diminuem a qualidade da água. A qual terá que ser tratada (na
época, década de 30, isto era algo absurdo). E para tratar é muito caro e
limitado. Diante deste fato, de onde sairá à água de boa qualidade? Do subsolo.
E onde tem um subsolo rico em água? Na Villa de Tamandaré...
O problema
então recai nesta extração, que provavelmente irá diminuir o volume de água,
que é o alicerce liquido das gigantescas cavernas calcárias ocultas aos nossos
olhos, que estão sob onde pisamos. Para agravar a situação, a Villa de
Tamandaré, também, irá crescer populacionalmente. E isto indica mais
construções sobre o solo, que querendo ou não aumentarão o peso sobre estas
ocultas cavernas. Neste contexto, enquanto a reposição de água for igual ou
superior ao volume de água que sai tudo isto que foi citado não terá efeito. O
problema é quando o volume de água que sai, for muito maior que o que entra nas
cavernas do subsolo, o qual é possível perceber, quando os poços de água das
casas ou as dolinas (lagos naturais) diminuem seu volume ou secam. E quando
isto acontecer, a probabilidade da cidade ou algum ponto dela afundar é muito
grande, já que possivelmente o aquífero, compromete o território tamandareense
pelo que observei, (atualmente se sabe que o aquífero se estende por quase 80%
do subsolo da cidade).
Espantados mas
ao mesmo tempo aliviados, o pessoal que observou e escutou tudo aquilo, entre
ele o ilustre narrador Vicente Krizizanoski (que foi um dos pedreiros da obra
do Seminário) do fato escutado pelo meu pai Antonio Ilson Kotoviski. Com o
tempo foi contando esta história para outros. E como já é de conhecimento das
pessoas, o repasse da história nunca era feita da mesma forma e às vezes, era
distorcida involuntariamente e mal interpretada (devido ao contexto da cena
presenciada), até que ela ganhou o formato como ficou conhecida entre a
população mais tradicional do município. Ou seja, que o padre capuchinho, por
divergência no que tange ao afrontamento o qual sofreu no desempenhar de seus
serviços, saiu da Villa Tamandaré, amaldiçoando-a com o destino que a cidade
iria afundar.
Este fato da
maldição se refere ao episódio em que os padres discutiram a ponto de o
sacerdote italiano se desligar da obra de vez. O qual de cabeça quente
expressou: que não adiantava fazer uma obra em uma terra onde mais tarde iria
afundar e se tornar um grande lago como também, nunca poderia ser uma cidade de
fato (com prédios). E como, esta discussão foi escutada e presenciada pelos
pedreiros, estes acharam que o padre engenheiro estava amaldiçoando a
localidade"...
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