sábado, 3 de agosto de 2013

OS PRIMEIROS "CIVILIZADOS" EM TERRAS PARANAENSE

TEXTO EXTRAÍDO DO LIVRO RELATOS DE UM TAMANDAREENSE. HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE ALMIRANTE TAMANDARÉ (p.46-49).

Pela História oficial, o território luso na porção meridional da América, não começou ser colonizado imediatamente após seu descobrimento. Esta situação ocorria, porque o Reino de Portugal desfrutava de um importante e lucrativo comércio ultramarino, com suas feitorias fundadas nas regiões costeiras das atuais nações da China, Japão, Índia, Arábia, Angola, Moçambique, Timor Leste, São Tomé e Príncipe, além de outras localidades distribuídas pela região do Oriente. Diante deste fato, a  América pouco lhe servia, pois, não possuía algo relevante para ser explorado comercialmente, com exceção do pau-brasil.
Naquela época, muitas nações não concordavam com a divisão do mundo, tratada pelos reinos ibéricos. Por este motivo, não a respeitavam. Então, não raro, foi à presença francesa no litoral Brasileiro, que a principio também vinham buscar pau-brasil, e empreender busca a outras coisas comercializáveis na Europa.
Conhecedor deste fato e de e que a Espanha já organizava expedições, que saiam da costa oeste da América em direção a leste. Além de noticias sobre ouro e prata encontrado pelos espanhóis em território Inca e Asteca e principalmente porque o monopólio do comércio com o oriente já estava sendo perdido, o então rei de Portugal, Dom João III, viu a necessidade de proteger o território americano. Para realizar isto, teria que formar povoamentos no território de futuro tão promissor. Mas para colonizar, teria que investir. Percebendo que seria caro tal empreendimento, Dom João escolheu nobres de sua extrema confiança, e lhes doou quinze grandes lotes de terras na América, as quais deveriam ser providas, protegidas e gerar lucros. Mas tudo, a partir de recursos bancados pelos próprios donatários. Resumindo, se fazia assim a primeira forma de organização administrativa no Brasil, o qual é conhecido como sistema de Capitanias Hereditárias. As quais, a Capitania de São Vicente e a de Santana, foram as que se dispuseram em parte, sobre o atual território paranaense.
Porém, antes da chegada, de Martim Afonso de Souza para tomar posse da Capitania de São Vicente, em 21 de janeiro de 1532. Já era de conhecimento, que já existiam portugueses morando neste território muito antes de 1531, provavelmente aventureiros que pertenciam a então expedição de Aleixo Garcia e náufragos que vieram parar nestas terras anos após a descoberta da nova terra por Cabral.
Estes portugueses antecessores de Martim de Souza formaram pequenas vilas (ainda não oficializadas, mas denominadas como vilas) nas regiões da capitania, e viviam junto com os índios destas regiões. Seus primeiros trabalhos na nova terra era um trabalho de agricultura, já que provavelmente estes homens vinham de regiões agrícolas de Portugal. A caça de escravos índios também era utilizada por esses primeiros homens em terras brasileiras, já que o porto de São Vicente (antes da chegada de Martin Affonso) era conhecido como um porto de escravos. Esses homens que habitavam não só a região de São Vicente. Mas também outros portos mais ao sul (Capitania de Santana, doada a Pero Lopes), provavelmente vieram de naus clandestinas que vinham em busca de terras e procuravam chegar ao rio da Prata, tanto que em alguns portos da mesma época também se encontravam náufragos espanhóis.
Martim Affonso de Sousa não permaneceu no Brasil e voltou a Portugal, mas deixou muitos de seus homens em terras brasileiras, como por exemplo: Braz Cubas que depois se tornou capitão-mor da capitania. Esses homens que ficaram foram aqueles que realmente começaram a colonizar mais intensificamente a capitania de São Vicente, pois começaram a comandar e a organizar a nova terra descoberta.
Independente da data, já era notória a presença do “homem europeu” no litoral próximo as atuais terras paranaenses. No entanto, mesmo nas regiões onde não havia traços de povoamentos, já era notório que uma das atividades principais dos habitantes da Capitania, era a busca por índios e metais preciosos.
Pois, o que motivava o português vir para a colônia, não era o sonho de uma vida nova no Brasil, mas sim, o enriquecimento, fama e reconhecimento, pelas suas façanhas. As quais lhes trariam o respeito e a honra perdida em Portugal. Ou seja, os  colonos que vieram para o Brasil, e ficaram até a sua independência, não vieram para ficar. Mas para um dia voltarem para Portugal, agraciados de fama e fortuna[1].
No entanto, o problema é que uma grande maioria não voltou, e aqui ficou alimentando o sonho de um dia voltar, e agindo como se fosse um dia voltar, pois, nada faziam para melhorar ou facilitar sua “estadia” em terras brasileira.
Talvez este comportamento explique, porque hoje, muitos dos que passam e em pouco tempo se vão de Almirante Tamandaré para outros locais, nada deixam de colaboração para melhorar a cidade. Pois, “porque fazer se daqui a algum tempo não vou mais morar aqui!” Esta atitude de outrora, hoje ainda é repetida. Maldita herança deixada por estes gafanhotos.
Porém, foi este comportamento ingrato, que mais motivou e deu coragem aos pioneiros colonos, a desbravar as terras paranaenses e consequentemente, deixar suas marcas pelos caminhos.  Sendo que, na ânsia pela fortuna e fama, muitos esqueceram o tempo, e foram absorvidos e acorrentados pelo chão que vieram “parasitar”.



[1]              SALVADOR, Frei Vicente do. História do Brasil. 4ª Ed. São Paulo, Ed. Melhoramentos, 1965, p.59.

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