HISTÓRIAS DOS TEMPOS DOS CORONÉIS PARTE I
A memória
histórica da cidade de Almirante Tamandaré, infelizmente possui uma
bibliografia muito escassa. Por sorte existem pessoas no município que carregam
fragmentos desta história em sua memória e a propagam oralmente de forma
espontânea em uma simples conversa.
É neste
contexto que muitas vezes no cotidiano diário da cidade se encontra na avenida
em rodas de conversas o Sr. Zair José de Oliveira, filho nato da terra desde 25
de fevereiro de 1943. Época que existiam pouco mais de 35 casas na Vila e
região onde moravam na Sede as famílias Rose, Bini, Vaz, Cardoso, Siqueira,
Cruz, Carlesso, Buzato...
Estudou no
Grupo Escolar Almirante Tamandaré (atual Escola Municipal Rosilda Kowalski)
onde fez o primeiro grau tendo como professoras sua mãe dona Jaci Real Prado de
Oliveira e sua tia Roza Bini de Oliveira. Este ilustre cidadão da terra carrega
em seu sangue a tradição de famílias pioneiras que em meio a diversas
adversidades de suas respectivas épocas foram de fundamental importância para o
desencadeamento da autonomia municipal.
Pois, seu avô
paterno era o ilustre Coronel João Candido de Oliveira, personalidade que com
sua influencia política junto com João Alberto Munhoz, Vidal José de Siqueira,
Antônio Cândido de Oliveira, Antônio Cândido de Siqueira, Antônio Ennes
Bandeira, Antônio Vieira Bittencourt e Eloy Artigas de Christo formaram a
primeira Câmara Municipal da História dentro de um contexto autônomo que foi
instaurada junto com o município em 25 de Janeiro 1890. Pois, a data de 28 de
outubro de 1989, corresponde à edição da Lei Provincial nº 957 que transformou
o Distrito de Conceição do Cercado em Villa com o seguinte texto legal: “Fica
elevado à categoria de Villa, com a denominação de Villa de Conceição do
Cercado, da Paróquia de Pacotuba, com a mesma divisa, e compreendendo as
colônias São Venâncio e Antônio Prado e do distrito de Ribeirão da Onça”. Porém, quando a cidade foi instaurada, a
mesma já se chamava Tamandaré por força do Decreto nº 15 de 09 de 1890.
Nesta época não
existia o cargo de prefeito. Ou seja, era o Poder Legislativo que administrava.
Por esta particularidade da época o “intendente” mais votado ou designado pelo
governo estadual se tornava o presidente da Câmara. Diante disso, o primeiro governante
com status de autoridade máxima no município foi o Presidente João Alberto
Munhoz.
Foram tempos em
que a história da Vila de Tamandaré se confundiram com a própria trajetória de
vida do Coronel João Candido de Oliveira. Pois, o mesmo se tornou Intendente da
Cidade pela primeira do município no período efêmero de 10 de fevereiro de 1908
a 19 de junho de 1908. Posteriormente indicado pelo Governador Carlos
Calvalcanti de Alburquerque, assumiu a intendência da cidade em 20 de junho de
1912 até junho de 1920. Ou seja, por quatro biênios seguidos foi à autoridade
mais elevada em solo tamandareense. A ponto de no biênio de 1912/1913[1] se
tornar Deputado Estadual pela cidade. Feito que se repetiu na Legislatura
Estadual do biênio 1930/1931[2].
Seu Zair José
poderia ser suspeito quando traz a tona estas lembranças, pois é neto do
Coronel. No entanto, estas são histórias e não estórias. Eis que elas se
confirmam documentalmente e notoriamente. Pois, o legado do Coronel se expressa
em um dos patrimônios histórico e cultural estadual existente na cidade[3]. Já
que foi na gestão do mesmo em 26 de março de 1916, com a presença do Presidente
do Estado do Paraná, Affonso Alves de Camargo e do Senador Generoso Marques dos
Santos, que ocorreu a inauguração da Prefeitura Velha[4]
(atual Biblioteca Harley Clóvis Stocchero estabelecida em 27 de abril de 2006
no lugar da Biblioteca Santos Dumont que foi remanejada para o Bairro da
Cachoeira na antiga Estação de Embarque da Ferrovia).
Outro legado
deixado foi a doação do terreno onde atualmente se encontra a Igreja Nossa
Senhora da Conceição e o Cemitério Municipal em definitivo a paróquia, feita
por ele e sua segunda esposa Bertolina Agnes Kendrick de Oliveira. Pois, no
lugar do terreno doado existia uma pioneira capela feita de estuque, que data
aproximadamente de 1863, que não resistiu as vibrações causadas pelo trem de
apoio ainda no que tange a sua passagem
no período da construção da ferrovia que chegou em Tamandaré em meados de 1907.
Onde posteriormente foi construída uma nova, possivelmente com os recursos da
indenização recebida pela pelo fato da ferrovia ter passado pelas terras do
Coronel. Porém, só em 1914 tem inicio a construção de uma Igreja maior que foi
inaugurada em 1918[5].
Com satisfação
percebida nestes relatos na própria naturalidade de seu Zair, o mesmo analisa
que o Coronel João Candido, talvez tenha sido o único ou um dos políticos que
assumiram o poder na cidade, que doaram bens particulares (terras) ao
município. Não pelo fato dele ser um homem de posses, já que suas terras se
estendiam desde onde está a sua casa (residência de seu Zair) que fica ao lado
do terreno onde morava o seu avô e seguiam pelos territórios dos atuais Bairros
São Felipe e Humaitá. Mas sim porque queria o melhor para sua terra.
Atitude
carregada por sua família demonstrada em ações, principalmente se analisar o
histórico da mãe de seu Zair José. Pois, muitos passam pela frente do Colégio
estadual Jaci Real Prado de Oliveira, mas se quer questionam porque aquela
senhora é patronesse daquela instituição de ensino. No entanto, a mesma também
representa uma importante família do município a qual tem origem dentro do
município no seu pai, o espanhol José Real Prado, o qual foi Cônsul da Espanha
em Curitiba. Residia na região do Botiatuba, onde possuía um armazém. Por sinal
o primeiro da região. Também medicava as pessoas através de homeopatia, pois
era químico, conhecedor da formula do fósforo sendo o pioneiro a desenvolver
esta formula em escala industrial no Paraná.
Dona Jaci Real
Prado, mãe de seu Zair, foi uma importante professora do município do final da
década de 1930 e sequentes. Onde lecionou nas Escolas Isoladas de São Miguel e
Cercadinho como também no antigo Grupo Escolar na Sede[6],
que foi construído na gestão de seu sogro (Coronel João Candido de Oliveira no
ano de 1912). Esta escola era de madeira, tinha apenas uma sala onde os alunos estudavam
de primeira a quarta série.
Para os leigos
e pessoas que a pouco tempo moram na cidade, talvez achem estranho quando seu
Zair relatar que nem sempre a cidade teve o nome atual. Pois, segundo ele e
fontes oficiais históricas, o primeiro nome da cidade foi Nossa Senhora da
Conceição do Cercado; o segundo foi Vila de Tamandaré; o terceiro foi Timoneira
e por fim Almirante Tamandaré. Que é uma homenagem ao militar e herói de guerra
brasileiro Joaquim Marques de Lisboa, que era o Patrono da Marinha do Brasil
que possuía a Hierarquia de Almirante e o titulo nobiliárquico “Tamandaré”.
Contemporaneamente,
a família Candido de Oliveira doou para o município, a escrivaninha que
pertencia ao Coronel João Candido de Oliveira. A qual era onde ele abria suas
correspondências, lia seus livros, e na última gaveta guardava seu dinheiro...
Esta escrivaninha se encontra na Biblioteca Municipal Harley Clóvis Stocchero e
representa uma importante peça histórica cultural.
Outro legado
que se propaga a partir da memória do Coronel João Candido de Oliveira, diz
respeito aos contos e lendas que o povo conta. Exemplo: “...devido a sua popularidade, força política e riqueza, os antigos
contavam que no tempo do Império, o Coronel João Cândido enterrava moedas de
ouro em panelas. Dizia-se que era para o
governo com suas tropas não roubar. Até hoje há gente que procura o dinheiro
deixado por ele, segundo seu Zair. Se lenda ou não, existem muitas histórias ou
estórias no município que se tornaram folclóricas relativas “as panelas cheias
de ouro e riquezas que os antigos enterravam em seus terrenos”.
Seu Zair José de Oliveira é um grande político da
cidade, até este momento foi três vezes vereador e uma vez vice-prefeito na
Gestão Cide Gulin.
[1] FERREIRA, João Carlos Vicente. O Paraná e seus municípios. Maringá: Editora Memória
Brasileira, 1996, p. 121.
[3] GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ/SECRETARIA DO ESTADO E DA
CULTURA. Espirais do tempo. Bens
tombados do Paraná. Curitiba, 2006,
p.47.
[4] Acta da Sessão Extraordinária de inauguração do
edifício destinado a Municipalidade de Tamandaré. 26 de março de 1916.
[5] Livro Tombo, nº 93, 1909, p. 20.
[6] REDE ESCOLA. Escola Jaci Real Prado de Oliveira.
Disponível em:< http://www.attjacireal.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=9>
Acesso em: 14 mar. 2011.
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