sábado, 2 de novembro de 2013

CEMITÉRIOS E SEPULTAMENTOS

Um assunto interessante que chama atenção é o sepultamento de entes queridos. Pois, houve um tempo na cidade em que isto era um problema. Pois, até a década de 1930, não existia cemitério na Sede. Diante disto, muitas famílias enterravam seus familiares, no próprio terreno. Um exemplo, da dificuldade de se enterrar é a história da Capelinha do Pacotuba, de 1929, que em seu terreno foram muitas pessoas enterradas. Hoje uma parte desse terreno, virou rua. No entanto, as localidades do Marmeleiro, Tranqueira, Prado e Cachoeira já dispunham de cemitério desde o século XIX.
A falta de cemitério nesses tempos era notória e não exclusiva de Tamandaré. Pois, o único cemitério oficial existente na região era o de Tranqueira. No qual eram sepultados pessoas de Votuverava, Colônia Assungui e da Sede. O túmulo conservado mais antigo encontrado e preservado está datado de 1908.     

Com o advento do Seminário dos Padres Capuchinhos no Botiatuba na década de 1930, aparece outro cemitério. Porém, restrito a sepultamento de padres.
 Contava seu José Real Prado Sobrinho, nas visitas que fazia a mercearia de meu avô no Botiatuba, que no século XIX (1818, 1831 e 1838 até o começo do século XX), se desencadeou um surto de Bexiga (varíola) em Curitiba, o qual dizimou muitos moradores, tropeiros e pessoas que viajavam do litoral para o Assungui[1]. Ou seja, que passavam pela Freguesia do Pacotuba (Almirante Tamandaré). Diante deste fato, os que morreram com esta doença, foram enterrados no terreno que margeia a Wadislau Bugalski, próximo as atuais ruínas da Pedreira Botiatuba. Dona Noêmia Kotovski, confirmou tal relato, pois, ela dizia que quando foi morar no Botiatuba, tinha medo de passar pela região à noite, por causa dessa história, contatada por seu Zezinho e outros moradores já de idade que moravam na região, quando a dona Noêmia era moça. Atualmente, existem casas sobre este terreno.
Porém, um fato curioso, é o contado pelo Sr. Albino Milek. O qual relatou, que na época da II Guerra Mundial, quando um alemão ou descendente de alemão morria na Cachoeira, os poloneses da Colônia Antonio Prado não deixavam este serem enterrado no Cemitério do Prado. Em represaria a este fato, os alemães de São Venâncio não deixavam os poloneses falecidos serem enterrados no Cemitério da Cachoeira. Outra situação incompreensível para os dias atuais é que nas décadas anteriores a 1960, protestantes não podiam ser enterrados em cemitério de católicos e vice-versa[2]. Por este motivo que o cemitério da Cachoeira também é conhecido como “cemitério evangélico”.   
Outra situação marcante narrada por Albino Milek, era o sepultamento com esteira. Ou seja, como o caixão era caro, as pessoas mais humildes costumavam dispor o falecido sobre uma esteira, em seguida este era enrolado, e as pontas amarradas (como se fosse uma linguiça), em seguida era colocado na cova e coberto com terra. Isto tudo, feito na frente de todo mundo.
Nesta época, em que o caixão pronto era caro, existiam os carpinteiros que faziam caixão. Porém, este caixão era feito simultaneamente ao velório. Ou seja, enquanto o falecido era velado, o carpinteiro, ficava montando o caixão no quintal. Pelos relatos, dava uma sensação ruim presenciar tudo aquilo[3]. Seu Generoso Candido de Oliveira, também relatou que até 1930 não existia Cemitério na Sede, sendo que os sepultamentos eram feitos no próprio terreno[4].
No século XIX, pela falta de cemitérios na região, grande parte dos moradores da Lamenha inclusive os imigrantes eram sepultados no cemitério do Abranches. Cuja, a cruz que fica em cima do portão do cemitério foi doada pelo pai do Desembargador Isidoro Brzezinski, ou seja, o senhor Pedro (Piotr) Brzezinski[5].
Longe de apavorar as pessoas, vejo com certa preocupação, o desconhecimento da existência de antigos cemitérios não oficiais espalhados pelo município. Pois, independente de superstição ou respeito ao terreno sagrado, o que me preocupa são os falecidos por varíola ou outra moléstia grave que foram enterrados de qualquer jeito, em um local onde existe uma grande quantidade de água guardada no subsolo. Se esta preocupação procede ou não, isto eu não sei. Porém, como já presenciei enterros onde o falecido foi posto em caixão especial devido a sua moléstia. Ficam dúvidas sobre esta situação. Mesmo passando quase cento e quarenta anos do ocorrido.
Na primeira imagem mostra o exterior da Capela do Seminário Santo Antônio. Na segunda imagem aparece o interior da capela. Atrás dela se encontra o cemitério/Foto: acervo da Secretaria Municipal de Cultura.    


[1]              KUBO, Elvira Mari. Aspectos demográficos de Curitiba: 1801 – 1850. Dissertação de Mestrado, Departamento de  História, Setor de Ciências Humanas,  Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná: Curitiba, 1974, p. 106.
[2]              Relato de Valter Johson Bomfin, abril de 2011.
[3]              Relato de Otavio Kotoviski, em 2011.
[4]              Relato de Generoso Candido de Oliveira, 1998.
[5]              HAYGERT. Aroldo Mura G.  Vozes do Paraná: retratos de paranaenses/João Osório Brzezinski. 22 Ed. Curitiba: Convivium, 2009, p. 05. 

Um comentário:

  1. Prezado Sr. Antonio Kotoviski,

    Meu sogro é neto do Sr. Rafael Real Prado, irmão do então vice-cônsul da Espanha, Sr. José Real Prado.

    Gostaria de saber se o senhor dispoe de material que fale mais sobre a familia Real Prado, pois estou fazendo um estudo sobre a genealogia deles. No momento estou na Europa e pretendo ir ate Sevilha, para conhecer a cidade de origem deles e conseguir mais informações.

    Caso possa manter contato, meu email é s_silva2009@pop.com.br

    Atenciosamente,

    Salomao


    ResponderExcluir