Extraído do livro Relatos de um tamandareense...
O coronelismo
que existiu na Vila de Tamandaré, não era tão radical como foi no nordeste do
Brasil, como também, o sistema, não encontrou as mesmas facilidades para se
desencadear aos moldes apresentados.
O coronelismo
na Vila de Tamandaré se apresentou centralizador. Porém, limitado ao poder
estadual, devido à proximidade com a capital e a própria característica da
população, que apesar de agrária, possuía posse e sobrevivência independente da
ajuda ou não do poder local.
Tal fato era
naturalmente notório. Porque o povo pouco ligava para a política. Pois,
independente dela, tinha que trabalhar e buscar formas diversas de conseguir
recursos. Já que, infelizmente, no período final do século XIX até meados da
década de 1940, a região tamandareense era pouca habitada, possuía uma produção
agrícola e pecuária voltada para o próprio sustento, iniciava a exploração da
cal e comercializava com a capital alguns excedentes agrícolas, porém, trazia
de Curitiba, produtos manufaturados. Resumindo, para o povo, o coronel era um
político. Porém, com fama adquirida devido aos conflitos gerados pelas disputas
de poder entre os próprios coronéis.
Diante destes
expostos, não raro é perceber nos depoimentos das pessoas que presenciaram este
momento em Tamandaré. Relatos demonstrando que os coronéis que por aqui
pisaram, eram pessoas boas na relação com o povo comum. Pois, eram prestativos
e de boa convivência. Porém, longe de haver contradição na informação, eles
eram intolerantes na relação de convivência e disputa pelo poder entre eles
próprios, ou seja, entre os que tinham o poder.
Neste contexto,
não raro, era encontrar famílias desses políticos nesta época que não se
falavam. Pois, se tratavam como inimigas. E também, não era ficção, entrar em
contato com histórias contadas pelos mais antigos, de filhos de coronéis
inimigos, que acabavam se casando escondidos para evitar a dura repreensão dos
pais.
Segundo relatos
de seu Generoso Candido de Oliveira, filho do Coronel João Candido de Oliveira;
ele relatou que seu pai, não se dava muito bem com sua irmão mais velha, dona
Rachel Candido de Siqueira, em virtude de divergências políticas, geradas em
consequência do primeiro casamento entre seu pai e sua mãe Amélia. Ou seja, o
jovem João Candido de Oliveira pertencia a uma família rival politicamente da
família da senhorita e futura esposa Amélia Almeida.
O senhor João
Candido de Oliveira e Dona Rachel só fizeram as pazes, motivados pela eminência
da presença da morte que se aproximava para Dona Rachel, o qual chamou seu
irmão para por um fim nas magoas guardada por décadas.
O futuro
Coronel era maragato (partidário do federalismo) e a enérgica e política dona
Rachel era pica-pau (partidária republicana do poder central forte), a qual
comandava todo mundo e era firme em suas decisões, uma característica de sangue
da família.
O futuro
Coronel, porque também pelos relatos de seu Generoso, o seu pai recebeu o
comando da Guarda Nacional, do governo federal. Pois, isto se deu, porque
naquela época não existia quartel nas cidades pequenas, e como o Brasil estava
passando por recente transição de sistema governamental, ocorreu à necessidade
do governo central, garantir que esta transição se concretizasse. Apesar de ser maragato, o governo confiou a
instrução militar da cidade a ele e também a outros homens politicamente fortes
da época, pois, era uma das prerrogativas do Presidente da Câmara esta
competência.
Porém, um dos
motivos que lhe caracterizaram a fama de autoritário, foi justamente esta ordem
de promover a instrução militar de civis. Pois, diferente dos dias de hoje,
cujo todo cidadão brasileiro que completa 18 anos deve se alistar, porém, nem
sempre é convocado. Naquele tempo, não havia alistamento, simplesmente havia um
sorteio, onde o “sortudo”, deveria se apresentar. O problema e que muitos não
apareciam, e diante desta situação, o coronel, era obrigado por lei, buscar o fulano
onde é que se encontrasse utilizando-se dos métodos que melhor se adequassem,
independente da vontade do sorteado não querer ir...